Familia, meu maior presente

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CAMA DE MÃE

Resolveram dormir juntas, as três na cama imensa. O resultado do exame foi aprisionado no envelope. Silenciado. O aperto no peito parecia saudade antecipada. Surpresa e impotência caminham juntas nessas horas. Sem combinar foram se chegando, vestindo pijamas e perplexidade. Mãe e filhas, entranhas. No escuro começaram a conversar coisas banais porque nada é mais reconfortante que a retomada do ritmo familiar. Os assuntos surgiam sem pompa nem cerimônia. Lembranças, casos, frivolidades, reflexões. Às vezes, davam-se as mãos ou brincavam com o cabelo da outra. Comentários politicamente incorretos, vida alheia, fofocas. Perguntas que estavam há muito guardadas foram feitas sem meias palavras. Histórias de quando eram pequenas foram lembradas. Episódios inéditos foram revelados em meio a espantos e risos. Um carinho pelo já vivido foi tomando conta delas três. Tinham tanta vida para trás que a idéia de interrupção ou ameaça era descabida. Muitas vezes tiveram vontade de chorar baixinho. Nessas horas abraçavam-se com braços e pernas como se fossem todas crianças. Revezaram-se nas histórias. Cada hora uma falava. Às vezes cochilavam mas logo voltavam. Queriam estar juntas, alertas, inteiras. Bobagens, palhaçadas, piadas. Gargalhar no escuro é maravilhoso. De repente alguém gritava: Pára de empurrar! Seu pé tá gelado! Rir no escuro é fantástico. É libertador e revigorante. É experimentar soltura, coragem diante do abismo, uma força nova. Rir no escuro é uma espécie de acalanto. Um estardalhaço apaziguador. Quando rimos no escuro cantamos para a vida. E foi assim, que elas pegaram no sono, sorrindo. Acordaram serenadas. Eram fortes porque sabiam fortalecer-se. Não foi a primeira vez nem seria a última que dormiram juntas na cama imensa. Dormiram juntas, emboladas, amparadas uma na outra toda vez que a vida bateu forte, toda vez que ador foi indizível, toda vez que os silêncios e as palavras só podiam ser pronunciadas entre elas, toda vez que as certezas abaladas só seriam restauradas por elas, toda vez que as lembranças sagradas só poderiam ser compartilhadas com elas. Muitas vezes dormiram chorando, encolhidas, feridas. Nessas noites não falavam nada apenas certificavam-se de que não estavam sós. Outras vezes dormiram juntas porque estavam felizes demais e precisavam compartilhar. Era um ritual. Era mais que velar febres ou mal estares. Era cuidar da alma, dos laços invisíveis, da história familiar. Era zelar pela união, pela sanidade, pela inequívoca cumplicidade do sangue, pela eloqüência das entranhas, pela integridade da memória, pelo sonho de continuidade.
As mulheres conseguem inventar espaços mágicos, círculos poderosos com fogueiras ancestrais, tendas vermelhas,varandas coloniais, salas de jantar, cadeiras de balanço. As mulheres buscam na troca, na proximidade e no amparo mútuo as saídas, as respostas, a cura. É um movimento evolucionário de proteção e resguardo. Nesses lugares são trocados segredos, sabedorias, senhas,mantras, orações, receitas, simpatias, vivências. Nessas horas elas são uma só. Coração, útero, alma. Buscam o feminino primordial, mítico. Buscando-se, encontram as mães, as avós, as filhas, as amigas, as deusas, a lua, a terra, a água. Amparando-se mantêm de pé toda uma linhagem e projetam-se no futuro para novas gerações.
A cama da mãe é um desses lugares. Tão simples, tão prosaico, tão próximo. As conversas ou os silêncios no escuro são celebrações generosas e redentoras. As gargalhadas, as tagarelices, os soluços, as angústias compartilhadas vão tecendo uma colcha fabulosa que envolve, protege, acalma. Acolher é um verbo da mulher; coisa de mãe,de filha, de amiga. Coisa de quem se desnuda, de quem gera, de quem sangra. Coisa de quem tem corpo feito para receber fluidos, sementes, vida. Coisa de quem incha, gesta, pare, amamenta.Coisa de quem ouve silêncios, lê olhares, sonha sinais, intui, pressente. Coisa de quem crê em romances, amolece de desejo, palpita de alegria. Coisa de quem acredita em juras,em sacramentos, em lealdades. Coisa de quem trabalha, cria,agrega, protege. O aconchego e a cumplicidade, a compaixão e a ternura transformam qualquer espaço em templo seja ele caverna, manjedoura, cozinha, quarto de amiga, pátio de recreio, mesa de restaurante, banco de praça, casa de avó, cama de mãe.

Hilda Lucas - Revista Viva

A casa dentro de nós

Existe uma casa dentro de mim, de você.
Talvez não seja uma casa dessas feitas de paredes, telhados, portas e janelas. Quem sabe apenas um lugar, uma vista de janela, um corredor, uma réstia de luz.
Sim, deve existir um canto ou uma construção erguida na sua memória. Uma espécie de país onde sua alma é cidadã, senhora, coisa natural como o rio, as árvores e as pedras desse mesmo lugar. Existe um exílio para nossas almas. Uma porta secreta, um sótão, um vão por onde escapamos para descansar, recompor,curar. Existe um lugar onde a alma repousa sem vontade de eternidade e o coração aquieta sem pressa de morrer.
De todos os lugares por onde passei e vivi ficou a casa da minha infância, uma casa feita de várias outras casas pois a casa da nossa infância é feita de casa de pai e mãe, avô,tio, de sala de aula, de banco de igreja, de praça, de praia, de banho de rio e de uma infinidade de vislumbres,lembranças e flashes retidos na retina da alma e da memória. Dentro dela ecoam vozes e risos, silêncios e melodias, passos, suspiros e todo tipo de sussurro das histórias contadas, dos amores vividos, das rezas, das dores caladas, dos segredos expostos. Dentro dela encontro muitas vezes o fio da meada, a chave do enigma, a solução da charada. De lá, vêm minhas pequenas certezas, meu código genético, meu norte e para lá retorno sempre que me sinto estrangeira ou me estranho. Lá me aguardam pacientemente os medos primordiais, aqueles que ainda latejam e assombram e também minha inocência, intacta epoderosa. Lá, estão as pontas tristes dos laços partidos, as palavras duras proferidas e atiradas como pedra, lá estão todas as palavras de chumbo, caídas no chão e também as palavras mágicas, as senhas para a paz, as bênçãos e os acalantos, lá estão, soltas como anjos as palavras em forma de asas. Lá está a minha impotência de menina, incapaz de evitar mortes e desastres e também a vocação para ser feliz cumprir o percurso irresistível do viver tal qual semente,riacho, passarinho. Lá estão meus olhos incapazes de traduzir absurdos e desatinos e também os meus olhos ávidos, ocupados com a transparência de tudo e com a percepção dos diminutos e corriqueiros milagres.
Lembro pouco da felicidade. Lembro pouco da tristeza. As coisas não tinham nome. Assim como a caridade e a loucura.Tudo era. Tudo estava lá, cabia, fazia parte. A vida era assim daquele jeito embolado entre luz e sombra, bem e mal, graça e pecado, viver e nascer. Não havia espanto ou escândalo, nem beatitude ou danação. A vida transcorria inteira sem véus nem vergonhas. Os acontecimentos eram despudorados, explícitos e a morte despida de mistérios. O céu existia, assim como o inferno.
Essa era uma das certezas que tornavam tudo mais fácil. Da casa da minha infância guardo mais que recordações, datas e fisionomias. Guardo mais que velhas fotografias, receitas ou objetos deslocados. O que ficou, e esse é o grande tesouro, foi o lugar dentro de mim. A sensação redentora de pertencimento, de ter raízes, identidade, de ter, como tudo que é vivo, um fio condutor que me antecede e me continuará.
Soube esta semana que demoliram a casa da minha infância.Sei que dentro de mim ela continua intacta. Somos uma estranha espécie de caramujo a carregar nossas invisíveis casas, castelos e templos. Somos viajantes precavidos, levamos conosco abrigo, terra natal e identidade, e assim evitamos o exílio, o desterro.
Lembro Mario Quintana que nunca deixou de correr pelos corredores da sua casa de menino e copio Mia Couto:
“O importante não é a casa onde moramos, mas, onde em nós, a casa mora".

Hilda Lucas - Revista Ana Maria

SEJA COMO UMA PIPOCA

Sem a dor e o sofrimento causados pelo fogo, o caroço de milho jamais conseguiria se transformar em algo diferente.
Ofereço um texto inspirador a você, que precisa de um empurrãozinho para encarar as mudanças e transformações tão necessárias na vida.
Essa mensagem, que há algum tempo chegou às minhas mãos, me fez refletir muito sobre a melhor forma de encarar os desafios.
O texto nos mostra que as dificuldades e os momentos difíceis pelos quais passamos sempre trazem um ganho, uma recompensa. Mais que isso: a conseqüência de todo esse processo é o amadurecimento pessoal. É como se uma nova pessoa nascesse no lugar da outra, que passou por tantos desafios. Ou seja, surge alguém mais forte. Por certo alguém muito, muito melhor.
Vamos lá? “Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente: as grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. Milhos de pipoca que não estouram são pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Mas elas não percebem, e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. De repente vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação nunca imaginada: a dor.
Pode ser fogo de fora - perder um amor, um filho, o pai, a mãe, ficar sem emprego ou tornar-se pobre. Pode ser fogo de dentro - pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimentos cujas causas ignoramos. Sempre há o recurso de apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimentovai diminuir, mas diminuirá também a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pipoca, fechadinha dentro da panela, cada vez mais e mais quente, pensa que sua hora chegou: ‘vou morrer!’Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar um destino diferente para si. Não imagina a transformação para a qual está sendo preparada. A pipoca não sabe do que é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como outra coisa completamente diferente. Algo que ela nunca havia sonhado ser. Bom, mas ainda temos o ‘piruá’ - aquele milho de pipoca que se recusa a estourar. É como aquela pessoa que insiste em não mudar. Ela acha que não pode existir nada mais maravilhoso que sua própria maneira de ser. A presunção e o medo são as duras cascas do milho que não estoura. No entanto, o destino dele é triste: será duro pela vida inteira! Deus é o fogo que amacia nosso coração e tira dele o que há de melhor.
Acredite: para extrairmos o melhor de dentro de nós, temos de, assim como a pipoca, passar pelas provas da vida.
Talvez hoje você não entenda o motivo de estar passando por algo. Mas, quanto mais quente o fogo, mais rápido a pipoca vai estourar.”
Autor: Gasparetto

O QUE É UM MENINO?

Entre a inocência da infância e a compostura da maturidade,há uma deliciosa criatura chamada menino. Embora se apresentem em tamanhos, pesos e cores sortidas,todos os meninos têm o mesmo credo: aproveitar cada segundo de cada minuto de todas as horas de todos os dias e protestar ruidosamente (o barulho é sua única arma) quando seu último minuto é decretado e os adultos os empacotam e os metem na cama. Meninos são encontrados em todas as partes: em cima de,embaixo de, dentro de, subindo em, balançando-se no, correndo em volta de, pulando para. As mães os adoram, as meninas os odeiam, irmãos e irmãs mais velhos os suportam, adultos os ignoram, o céu os protege. Um menino é a verdade com rosto sujo, a beleza com um corte no dedo, a sabedoria com um chiclete no cabelo... Quando você está ocupado, um menino é uma conversa-fiada, intrometido e amolante. Quando você deseja que ele cause boa impressão, seu cérebro vira geléia ou ele se transforma em uma criatura empenhada em desmontar o mundo . Um menino é híbrido: o apetite de um cavalo, a disposição de um engole-espadas, a energia de uma bomba atômica de bolso, a curiosidade de um gato, os pulmões de um ditador, a imaginação de Júlio Verne, o entusiasmo de um bombeiro e, quando se mete a fazer alguma coisa é como se tivesse cinco polegares em cada mão. Gosta de sorvetes, canivetes, serrotes, pedaços de pau (em seu habitat natural), bichos grandes, papai, sábados, domingos e feriados, mangueiras de água. Não é partidário de catecismo, escolas, livros sem figuras, lições de música, colarinhos, barbeiros, meninas, agasalhos, adultos e "hora de dormir". Ninguém mais é capaz de meter num único bolso um canivete enferrujado, uma maçã comida pela metade, um metro e meio de barbante, um saco de matéria plástica, tres notas de dinheiro, um estilingue e um fragmento de "substância ignorada". Um menino é uma criatura mágica: você pode mantê-lo fora do seu escritório, mas não pode expulsá-lo de seu coração. Queira ou não, ele é seu captor, seu carcereiro, seu dono, seu patrão - um anico, um pacote de encrencas. Mas, quando à noite você chega em casa, com suas esperanças e seus sonhos reduzidos a pedaços, ele possui a magia de soldá-los num segundo, pronunciando apenas: "Alô, mamãe!"...Oi pai!

É LOUCURA

É loucura...Odiar todas as rosas porque uma te espetou... Entregar todos os seus sonhos porque um deles não se realizou... Perder a fé em todas as orações porque numa não foi atendido... Desistir de todos os esforços porque um deles fracassou... É loucura...
Condenar todas as amizades porque uma te traiu... Descrer de todo o amor porque um deles te foi infiel... É loucura...
Jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo...
Espero que na sua caminhada não cometa estas loucuras! Lembrando que sempre há uma outra chance...
Uma outra amizade...
Um outro amor...
Uma nova força...
É só ser perseverante e procurar ser mais feliz a cada dia.